quinta-feira, 31 de julho de 2008

.Perigos de uma Mente Insone.

É interessante e, ao mesmo tempo, bizarro a capacidade que a mente tem de funcionar quando se está ocioso.

A minha, estranhamente, resolve se divertir além do ócio.

Eis que surgem idéias mirabolantes. Mas, o grande mal está nas conversas freqüentes travadas na minha área consciente.

O que ocorre é o seguinte:

Da mesma forma que a inspiração foi-se, levou de mãos dadas o sono. Só restou a insônia.

Esta, por sua vez, resolveu que estaria sempre presente; não vai embora nem com a vontade que vai além do limite – quase mínima – de assistir aos canais super animados de leilão de bois e afins, juntamente com aquela mão e pescoço – de alguém que não tenho a mínima idéia de quem seja – cheios de jóias. Detalhe: tanto os bois quanto as jóias são impagáveis.

Mas enfim, a insônia não vai embora de jeito nenhum. E é aí que mora o perigo.

Desistindo da televisão, tenta-se outras técnicas.

Tudo se inicia com a contagem de carneirinhos. Primeiro é simplesmente ‘um carneirinho, dois carneirinhos, ...’. Mais tarde já se torna ‘um carneirinho pulando a cerca.’. Um pouco depois de mais tarde ‘um carneirinho fofinho, branquinho e felpudo pulando a cerca, que está longe demais da casa do dono da fazenda, e como ele é um velho desnaturado, vai perder suas ovelhas, que irão saltar livremente pelos pastos verdinhos da fazenda vizinha.’

Viram? É só pestanejar um segundo, que a minha mente já me passou a perna.

A outra opção – quando os carneiros já pularam todos para a fazenda vizinha – é de pensar em coisas que dêem sono: travesseiro, pessoas bocejando, cobertores, chá.

A falha desta opção, porém, é que no momento em que se chega ao chá, o sono já se perdeu. Seja porque chá simplesmente seja uma água com gosto. Vai saber.

Contudo, há outra alternativa, a última cartada, os segundos antes da piscadela do assassino em sua última vítima no detetive: pensar em tudo e em todos.

Assim aparecem as conversas protagonizadas pela mente.

Tudo se inicia com uma certa cena presenciada há pouco ou muito tempo. A partir daí, normalmente, se revive cada detalhe, cada coisa dita.

E então surgem as coisas não-ditas. Palavras que não passaram pelo pensamento, ou então que nem existiam na época, no momento.

Começa o embate. ‘E se eu tivesse feito aquilo, daquele jeito?’ ou, então ‘E se eu tivesse dito isso?’. Simples. Mas somente até esse ponto. Depois, se passa a ter certeza de que, na próxima oportunidade, tudo virá à tona, e as palavras tomarão seu lugar. ‘Deixa uma próxima vez...’ Então os diálogos já começam a se formar sozinhos, as cenas e situações já vão sendo idealizadas.

E somente depois de muita confusão em uma mente tão pequena, percebe-se que não há espaço suficiente nesse mundo: ou eu, ou ela.

A mente, claro, vence. Só me resta dormir, e deixar que ela continue viajando... nem que seja em sonhos.



por Gabi, que já está cansada de ficar planejando
feitos mirabolantes e maneiras de controlar a humanidade; só
quer uma mísera noite de sono.

sábado, 12 de julho de 2008

Mais uma folha em Branco...

Estava sozinha. A mente não trabalhava.

Primeiro, a vontade.

Algo que veio do nada.

Depois, a imaginação.

Pegou-se idealizando cada detalhe.

Seguiu-se a tentativa.

Parou para pensar. Tentou pensar.

Por fim, a frustração.

Percebeu que não teria jeito.


...


Estava sentada em frente a uma folha de papel em branco.

Folha esta que transmitia exatamente tudo o que tentara fazer nos últimos tempos: apenas nada.

Tentara escrever, mas as palavras lhe fugiam. Optou por desenhar, mas a idéia não chegava ao papel.

Idéia. Idéia não existia. A criatividade foi-se com as dúvidas da última manhã.

Levando consigo tudo.

Deixando o nada.

E a folha continuava ali. Vazia.

A incapacidade de preencher a folha à sua frente estava lhe causando angústia.

Angústia por saber que há capacidade, mas alguma coisa falta.

Algo para andar de mãos dadas com a certeza de que se pode fazer algo.

A mente continua a trabalhar.

Viajar.

Sonhar.

Porém há uma barreira entre o que se pensa e o que se pode criar.

Uma tentativa. Falha. Novamente.

Duas. Poderia fazer isso melhor. Quem sabe se algo for mudado.

Três. Desastre.

Até que o cansaço triunfa.

Apagar tudo. Deixar o nada.

E só resta a mesma folha em branco.

Quem sabe da próxima vez...



por Gabi, que percebeu que a folha em branco
está virando uma constante.