A minha, estranhamente, resolve se divertir além do ócio.
Eis que surgem idéias mirabolantes. Mas, o grande mal está nas conversas freqüentes travadas na minha área consciente.
O que ocorre é o seguinte:
Da mesma forma que a inspiração foi-se, levou de mãos dadas o sono. Só restou a insônia.
Esta, por sua vez, resolveu que estaria sempre presente; não vai embora nem com a vontade que vai além do limite – quase mínima – de assistir aos canais super animados de leilão de bois e afins, juntamente com aquela mão e pescoço – de alguém que não tenho a mínima idéia de quem seja – cheios de jóias. Detalhe: tanto os bois quanto as jóias são impagáveis.
Mas enfim, a insônia não vai embora de jeito nenhum. E é aí que mora o perigo.
Desistindo da televisão, tenta-se outras técnicas.
Tudo se inicia com a contagem de carneirinhos. Primeiro é simplesmente ‘um carneirinho, dois carneirinhos, ...’. Mais tarde já se torna ‘um carneirinho pulando a cerca.’. Um pouco depois de mais tarde ‘um carneirinho fofinho, branquinho e felpudo pulando a cerca, que está longe demais da casa do dono da fazenda, e como ele é um velho desnaturado, vai perder suas ovelhas, que irão saltar livremente pelos pastos verdinhos da fazenda vizinha.’
Viram? É só pestanejar um segundo, que a minha mente já me passou a perna.
A outra opção – quando os carneiros já pularam todos para a fazenda vizinha – é de pensar em coisas que dêem sono: travesseiro, pessoas bocejando, cobertores, chá.
A falha desta opção, porém, é que no momento em que se chega ao chá, o sono já se perdeu. Seja porque chá simplesmente seja uma água com gosto. Vai saber.
Contudo, há outra alternativa, a última cartada, os segundos antes da piscadela do assassino em sua última vítima no detetive: pensar em tudo e em todos.
Assim aparecem as conversas protagonizadas pela mente.
Tudo se inicia com uma certa cena presenciada há pouco ou muito tempo. A partir daí, normalmente, se revive cada detalhe, cada coisa dita.
E então surgem as coisas não-ditas. Palavras que não passaram pelo pensamento, ou então que nem existiam na época, no momento.
Começa o embate. ‘E se eu tivesse feito aquilo, daquele jeito?’ ou, então ‘E se eu tivesse dito isso?’. Simples. Mas somente até esse ponto. Depois, se passa a ter certeza de que, na próxima oportunidade, tudo virá à tona, e as palavras tomarão seu lugar. ‘Deixa uma próxima vez...’ Então os diálogos já começam a se formar sozinhos, as cenas e situações já vão sendo idealizadas.
E somente depois de muita confusão em uma mente tão pequena, percebe-se que não há espaço suficiente nesse mundo: ou eu, ou ela.
A mente, claro, vence. Só me resta dormir, e deixar que ela continue viajando... nem que seja em sonhos.
por Gabi, que já está cansada de ficar planejando
feitos mirabolantes e maneiras de controlar a humanidade; só
quer uma mísera noite de sono.